16 de mai. de 2015

Sarau Comics Edition / Fanzinando Idéias : Como Tudo Começou?

(parte de uma entrevista feita para Pesquisadores Acadêmicos) 
Meu trabalho, têm muito haver com o meu dia a dia, pois vivo uma condição de trabalhar fazendo aquilo que gosto e o mais legal, perto de casa. Trabalho em uma instituição que atua na proteção e bem estar das crianças da região do Capão Redondo e Jardim Angela, aonde também moro. Validamos o direito delas estabelecido pelo estatuto da criança e adolescente (ECA), e fazemos isso através de atividades ludicas e artesanais. Ou seja, utilizo a arte em fanzines para falar sobre direitos, através de temas como; Bullying, Sexting, Abuso Infantil, tráfico humano, respeito as pessoas, direito de brincar, depressão e suicídio, futebol, periferia e funk etc.. fortalecendo o entendimento e passando uma mensagem. Minha paixão por fanzines surgiu de forma natural, na verdade, eu fazia fanzines e nem sabia que se chamava Fanzines, rsrs. Moro entre os distritos do Capão Redondo e Jardim Angela. Aqui a cultura do Rap, do Samba e do Forró sempre foram mais fortes, agora têm o Funk e tals, mas eu sempre tive uma caída para o Rock, e para ouvir ou curtir um som, tínhamos que atravessar a cidade, pois aqui na região havia poucos espaços. Surgiu então, uma necessidade de criar algo nosso, perto da gente. Começamos a fazer Encontros na minha casa com os amigos. Falavamos de muitas coisas e sempre ouvindo o bom e velho rock. Certa vez, um amigo sugeriu fazermos um Sarau e assim todo mês tinha um Sarau Em Casa (este Sarau tinha o nome de Sarau da Santidade, devido o interesse dos jovens que participava pela leitura da Bíblia) e cada dia, um amigo trazia outro amigo que trazia outro amigo. A casa ficou pequena e fomos para a laje, chegando momentos de termos 70 jovens reunidos. A divulgação era feita através flyers e panfletos que eu mesmo confeccionava com recorte de figuras e colagem (fazia tudo a mão e depois xerocava), pois não tínhamos computador. Também fazíamos umas "Revistinhas"  com informações, dicas de bandas que curtíamos e sempre tirando xerox para distribuição do próximo Sarau da Santidade (que depois, mudou o nome para Sarau Comics Edition). Naquela época o Orkut dominava a cena, e certo amigo de da cidade de Campinas, entrou em contato via Orkut dizendo: - Mano, que bacana o trampo de vocês, e esses fanzines aehh, vamos trocar ??  ?!?! Fanzines ?!?! Mas que TREM é isso? Pensei comigo.. Joguei a palavra no google que citou o Wikipédia falando o que era um fanzine. Naquele momento o meu mundo se abriu, enxerguei um universo e ao mesmo tempo fiquei surpreso, pois á tinha algumas Edições Produzidas e percebi que outras pessoas no Brasil também faziam fanzines. Comecei a pesquisar contatos, descobri as Feiras, e aos poucos fui conhecendo a galera que dominavam a Cena Fanzineira em nível nacional. Trocava fanzines via correios e quase toda semana quando eu chegava em casa, tinha um envelope vindo de algum lugar do Brasil. Também recebia fitas K7, postes, releases de bandas que queriam uma publicação em nosso Zine Sagrado Brutal Core. Era tudo muito bacana, até a internet popularizar e o PDF tomar conta geral. Assim, muitos fanzineiros começaram enviar fanzines por email, as bandas começaram fazer blogues e o mundo dos fanzines nunca mais foi o mesmo (risos).

Quanto ao Sarau da Santidade, durou certa de 3 anos. Sentimos a necessidade de sair da laje e ir para as ruas onde trocamos o nome para ColetivX Sarau Comics Edition (pequena editora de publicações). Começamos a mobilizar eventos com bandas e teatros nas praças  dos guetos periféricos e lugares que  fossem acessível só para Expor nossos Artefatos impressos. Conseguimos criar uma cena periférica chamada Sagrado Brutal Core que durou até os adolescentes começarem a fazer vestibulares, conhecer o amor, o capitalismo, a morte e as responsabilidades de adultos. Hoje, o Sarau Comics Edition é uma espécie de produtora cultural com cunho social e itinerante (sem casa fixa) e creio eu, com uns 12 anos de existência. Temos um Acervo de uns 20 fanzines de capas diferentes (hoje, em 2019 temos mais de 60 tipos de Zines) E assim, vivemos felizes para todo e sempre. Amém!!!

Minha inspiração pelo Christa Core Fanzine ... na verdade naão houve inspiração nenhuma e sim persistência kkk, O Christa era produzido pelo Guto Miranda e o Fanzine do Seu Madruga era a edição número 4. O Guto estava meio triste e desanimado, pois tinha acontecido uma zika na casa dele, que perdeu tudo inclusive os artefatos em fanzines originais. Ele estava decidido a não mexer mais com Zines e por mais que eu o incentivava, ele não queria. Então pedi autorização de produzir O Zine do Seu Madruga pelo Coletivo Sarau Comics Edition. Fiz algumas adaptações e diagramei o formato para facilitar no xerox. O mais louco, é que o Zine foi bem aceito na Cena Alternativa e Underground que conviviamos e,  com a mudança do Orkut para o Facebook, perdi o contato do Guto totalmente, a ponto, de até hoje não saber se ele está vivo ou, se sabe da repercussão que o seu Fanzine tem feito, pois digo/escrevo com toda certeza, ele já passou da marca de 600 impressos produzidos, isso devido a grande saídas dentro de Eventos de Animes, Cultura Indie e Nerd que já passamos.

+ Fanzines do Coletivo Sarau Comics Edition +
Quanto ao undergroundmque vivo.. Não sei se percebeu, mais o Zine do Seu Madruga tem uma mistura muito louca, pois ele fala de morte e ressurreição usando a pessoa do seu Madruga numa levada bem hard core, isso, em cima da letra musical da Banda Rodox do Rodolfo ex- Raimundos. Tanto o Guto Miranda, eu(roger beat) e aqueles que andavam conosco, vivíamos uma Cultura Alternative Cristã, isso quer dizer, éramos o underground dos underground. Para a igreja, o que fazíamos com os fanzines, indo a eventos e saraus era visto como desculpa e desviados do Camninho, eramos vistos como loucos, já para os "não crentes" eramos vistos sendo mais doidos ainda , pois eles achavam impossível aquela mistura: Fanzine + Rock + Deus + Jesus, pois isso não existia no mundo que viviamos. Geralmente, fanzines são feitos por rockers, satanistas, artistas que falam e pensam de forma profana, sem pudor e com conotação sexual. Quando eles olhavam para os nossos artefatos ficavam atônitos e a nossa intenção era justamente essa, mostrar algo diferente, inovador e com uma mensagem positiva que gerasse eseprança e auto estima. Ainda hoje, não existe nada semelhante aos Fanzines do Sarau Comics Edition. De vez em outra, coloco para pesquisar no google, vejo somente os nossos e alguns outros produzidos num tempo distante. Passado os anos, a galera fanzineira já respeita nosso Trampo. Temos uma boa amizade com todos e sempre quando possível, tiro um tempo para colar nos Encontros Fanzinadas, Fanzines e Afins de eventos da vida.

O Underground é considerado uma cena onde Bandas e Coletivxs realizam tudo com as próprias mãos, longe aos olhos da grande mídia. Usavamos esses lugares para levar nossos Zines pois combinava perfeitamente. Como fazíamos tudo a mão, recortando e colando em folhas de sulfite, pedaços de imagens, textos e revistas, tirando cópias preto e branco com custo bem reduzido. Fazíamos com qualidade e excelência para qualquer um que pegasse, já gostava de cara. Eramos aceitos na cena underground, porque eles olhavam e não tinham o que criticar devido a qualidade e criatividade dos Zines.

Bom, espero ter auxiliado no Release e suprido todas as dúvidas. Precisando de algo, só dá um salve! Agradeço por me fazer lembrar desses momentos que marcaram minha trajetória. (fim da parte 01, breve a continuação desta história verídica na parte 2)

Roger BeaTJesus

Fanzines Em Missões
Coletivo Sarau Comics Edition

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